Sonhei uma noite destas contigo.
De cima caíam gotas cheias de mim.
Passeava numa falésia em pequenos passos, com medo de cair e com a certeza que o queria fazer.
Percorri-a uma vez sem olhar para baixo, sem querer saber o que me atormentava. Voltei a percorre-la a olhar os meus pés, que se encarceravam em mim, lentamente sob o meu olhar.
E então olhei para o fundo da falésia e não consegui andar.
Era tão assustador e tão tentador.
Sabia que ia cair se a voltasse a percorrer
mas não resisti,
queria ver o fundo,
queria saber como ia ser,
queria largar o mundo
e libertar-me de mim.
Lembro-me de andar para trás, de me afastar da falésia.
Lembro-me de olhar para os restos de mim a cair do céu fortemente,
a impedir-me de ir,
a manter-me em mim.
Lembro-me de começar a correr, do ímpeto cada vez mais perto.
Libertei-me de mim e voei.
Vi o fundo mais perto, de uma beleza atroz cada vez mais nítida.
Sei que não me fechei em mim.
Sei que queria sentir em pleno o impacto.
Não consegui.
Acordei sem saber.
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